No começo dos anos 90 quando a internet ainda não tinha esquentado e não fazia parte da vida normal de todo mundo (pelo menos do mundo civilizado!), era comum ouvirmos coisas negativas e reativas com relação às novidades que ameaçavam mudar certas coisas que tínhamos como hábitos. O ser humano é um bicho teimoso! Resistente a novidades, mas principalmente a mudanças, o ser humano se apega àquilo que ele conhece bem e olha com rejeição e desconfiança para qualquer coisa que ameace obrigá-lo a mudar seus hábitos!
Lembro bem quando meus pais tiraram sarro da idéia da câmera digital. Não vai mais ter que usar filme na máquina?! Que besteira! Que é que essa gente está pensando? Que a gente vai ter que olhar as fotos por um computador e se quiser tê-las na mão vamos ter que imprimir com a nossa própria impressora? Gastar toda a nossa tinta? Que absurdo, isso nunca vai pegar!
A história provou que meus pais estavam errados! A difculdades deles em compreender e aceitar a mudança, no entanto, vinha de uma noção de que a novidade apenas substituiria parte do hábito antigo, como usar a máquina para tirar fotos apenas, agora de forma digital, sem o antigo filme. O que meus pais não compreendiam ou não visionavam naquela época era que a própria cultura que envolve fotos irira mudar e as pessoas não desejariam mais imprimir as fotos e foi nesse ponto que toda mudança aconteceu! No começo dos anos 90 não tínhamos a visão de que 20 anos depois estaríamos compartilhando fotos digitais uns com os outros em sites como Facebook, Orkut, Flickr ou mesmo simplesmente enviando por email uns para os outros. Continuamos imprimindo aquelas fotos especiais que queremos colocar na parede ou dar para a vovó que não se adaptou à tecnologia, mas o grosso de nossas fotos permanece tranquilamente em formato digital e achamos isso muito bom! As fotos não envelhecem, não estragam, dado que façamos backup corretamente elas também não se perdem, podemos enviar para quem quisermos em apenas alguns segundos, enfim, hoje rimos da resistência das pessoas ao formato digital para fotos.
O mesmo está ocorrendo já há bastante tempo como música e filmes. Eu mesmo já não compro CDs há anos e só compro DVDs que eu realmente desejo ter em casa dadas as múltiplas adições especiais, desde legendas até cenas cortadas, entrevistas, etc., coisas que ainda não é comum encontrarmos via download. Paro de comprar DVDs, no entanto, no momento em que começarem a vender acesso digital ao pacote completo que encontramos no produto físico. Isso está à caminho.
Com música já estamos percorrendo um caminho de uns 15 anos que primeiro aterrorizou a indústria fonográfica (que é feita de senhores “de idade” se comportam como meu querido pai, resistindo à qualquer novidade com desconfiança e rejeição!). Finalmente vencemos a luta e hoje baixamos de graça ou compramos música digital em sites como itunes.
O mesmo movimento está ocorrendo com livros hoje em dia. A Amazon, maior livraria virtual do mundo, que no início apenas comercializava livros “de verdade” pela internet, hoje está tendo boa parte do seu acervo sendo disponibilizado em formato digital. Mais uma vez encontramos resistência por parte daqueles que se recusam a mudar seus hábitos, assim como achávamos estranho não ter mais que usar filme na máquina fotográfica e resistíamos à mudança, muitas pessoas acham “estranho” não poder “pegar o livro na mão”! A tecnologia hoje em dia, no entanto, permite fazer com um arquivo digital o mesmo que você faz com livros de papel, sem todos os inconvenientes, porém.
O Kindle da Amazon, por exemplo (o software, não o aparelho), permite que você o instale em todos os seus aparelhos, no meu caso, desktop, laptop, ipad e iphone. O Kindle reader me permite baixar livros digitais direto da Amazon para leitura em todos os meus aparelhos sincronizadamente. Por exemplo, se eu estou lendo um livro no meu iphone na sala de espera do dentista, depois vou pra casa e quero continuar lendo o mesmo livro no meu desktop, o Kindle Reader sincroniza as minhas anotações e grifos (sim, é possível grifar e escrever num livro digital da mesma forma como fazemos em papel) e abre o livro na mesma página onde eu havia parado no iphone, agora no desktop. Isso não é uma maravilha?!
Para livros que não vêm da Amazon, como PDFs normais, continuo usando o Acrobat Reader, cuja instalação também é possível em todos os meus aparelhos e também me permite grifar e anotar no texto como se fosse um papel propriamente dito.
Para revistas mantenho assinaturas no Zinio que me permite assinar múltiplas revistas do mundo inteiro e acessá-las digitalmente de qualquer aparelho com acesso à internet. A leitura de uma revista em meio digital é algo que considero uma revolução! Antigamente ao ler um artigo e ver uma indicação de site, produto, livro ou de qualquer coisa eu ficava na dependência de lembrar o que era para depois procurar ou anotar num “papelzinho” se a indicação era por demais importante para que eu pudesse confiar na memória. Daí eu ficava na dependência de não perder o maldito papelzinho e ainda me lembrar de olhar a anotação e agir em cima dela (procurar o produto, entrar no site ou o que quer que fosse). Lendo uma revista digital hoje em dia eu clico nos links na própria revista e vou direto para outros sites, compro produtos, livros ou leio artigos recomendados. Tudo na hora, tudo sem precisar me preocupar em anotar separado para não perder aquela informação.
Carrego comigo o tempo todo em meu bolso (iphone) ou maleta (laptop e ipad) toda a minha biblioteca de livros e revistas. Eu não imprimo os livros em papel e acho que essa é a última fronteira que os ainda resistentes à essa mudança precisam atravessar. Investir num aparelho como ipad pode revolucionar a sua vida e seus hábitos de leitura. Ler no desktop pode ser incômodo para certas pessoas, o que as faz acreditar que elas “devem” imprimir livros digitais para leitura em papel. O ipad, no entanto, é mais prático que um livro “de verdade” e pode ser levado para qualquer lugar. Você pode ler na cama, na rede, no carro, no ônibus, enfim em qualquer lugar com um ipad como se estivesse lendo um livro de papel. Pode grifar o texto sem medo de “estragar” o livro, pode fazer anotações e marcas no texto, enfim, pode fazer tudo o que você faz com o livro de papel (o ipad só fica devendo os aviãozinhos de papel que você pode opcionalmente fazer com as folhas de um livro ruim!). O aparelho Kindle é ainda mais leve que o ipad, pode ser segurado confortavelmente com uma mão só e acaba sendo muito mais confortável para ler livros numa rede ou na cama do que conseguir equilibrar um livro de papel aberto.
O ipad obviamente não serve apenas para ler livros, é um mini computador portátil (para aqueles que não sabem!), que permite que você navegue na internet, assista filmes, escute músicas, e faça outras coisas que pode fazer com um computador normal.
Experts crêem que dentro de 15 a 20 anos não teremos mais livros de papel. Bibliotecas já estão convertendo seu acervo em formato digital e disponibilizando-o aos usuários através de acesso em computadores. Muitas editoras estão publicando cada vez mais livros em formato digital.
O fator ecológico tem um importante papel nessa mudança. Numa época em que estamos conscientes dos danos que estamos fazendo ao planeta, preferir comprar um livro de papel é um ato antiecológico! Livros de papel consomem árvores e poluem o meio ambiente. Até mesmo arrisco dizer aqui que num futuro próximo teremos um banimento legal de livros de papel em países de primeiro mundo.
Na esfera pessoal, livros de papel só oferecem desvantagens:
– Livros envelhecem, adquirem com o tempo um cheiro ruim e uma coloração escura. O “cheiro” faz mal para quem tem alergia à ácaros e mofo.
– Livros ocupam espaço e se você é uma pessoa como eu, espaço é algo precioso em minha casa! Aos 25 anos eu tinha uma biblioteca de mais de 1000 livros “de papel” que hoje já foram todos convertidos para o formato digital (ou eu comprei a versão digital e passei adiante a versão de papel). Hoje, aos 35 anos, tenho mais de 4000 livros, todos digitais, não teria onde colocá-los em minha casa caso fossem de papel!
– Livros são pesados. Hoje em dia eu posso acessar minha bilbioteca completa de qualquer lugar do mundo. Mês passado tirei 1 mês para escrever meu livro (que eu ainda não terminei!) na Itália. Aluguei um quarto numa pousada tranquila em Gênova e enquanto estava escrevendo tinha acesso a todos os livros que precisava consultar, além dos exemplares do mês das minhas revistas preferidas sendo entregues antes mesmo de estarem disponíveis nas bancas direto via Zinio. Se eu fosse levar comigo para a Itália os livros que precisaria consultar para minha pesquisa, certamente teria pago excesso de bagagem além de todo o incômodo de ficar transportando livros, além do risco de danificá-los em trânsito.
– Livros podem ser perdidos. Como todo objeto físico, livros podem ser estragados ou perdidos, seja num incêndio, seja ao emprestar para aquele amigo que nunca devolve nada ou mesmo quando seu filho de 4 anos resolve rabiscar e recortar as páginas!
– E por fim, livros e papel são “públicos”! É claro que é possível “esconder” livros que você não quer que ninguém veja que você está lendo, mas como todo objeto físico, sempre pode ser encontrado. Não quero minha vó chegando em minha casa e encontrando sem querer o manual do kama sutra! Leitores do 50 Tons de Cinza talvez não queiram o livro sendo encontrado por parentes. O formato digital permite o maior nível de privacidade possível, só você tem acesso aos seus livros e pronto, você os compartilha com quem você quiser.
Sinceramente não vejo uma vantagem sequer para os livros de papel e qualquer opinião contrária é fruto de uma resistência teimosa, tão natural do ser humano, que sempre demora para aderir a novidades por simples falta de proatividade para mudar hábitos. A realidade é que o futuro é digital, quem não aderir aos formatos digitais acabará ficando para trás.